Relato do Caminho de Santiago

Foi no passado dia 22 de Abril que pelas 09.00H demos inicio ao tão esperado passeio a Santiago de Compostela pelo chamado Caminho Português.
A partida foi de Barcelos e, como não tinha-mos dormido na noite anterior, dada a distancia de Évora, até aqui, escolhemos fazer uma etapa curta, somente até Ponte de Lima. O primeiro carimbo nas credenciais foi obtido na Igreja do Senhor Bom Jesus das Cruzes.
Depois de localizada a primeira seta amarela começou, por assim dizer, esta linda e árdua peregrinação, que terminaria três dias depois, na maravilhosa Praça do Obradoiro, em frente à imponente Catedral de Santiago de Compostela.
A principio é um pouco difícil localizar as setas, que por vezes, estão como que, camufladas na paisagem e, isto torna-se ainda pior dentro das localidades, especialmente as maiores, onde há não só mais transito, mas também painéis publicitários, portas, janelas, etc.
Logo à saída de Barcelos pedimos informação a um jovem que, prontamente foi buscar a sua bike e, nos acompanhou até à entrada da pista em terra; Um agradecimento para ti, jovem Barcelense.
Está sol e o calor faz-se sentir.O piso deu-nos as boas vindas, mostrando que aqui não é o Alentejo. Grandes, mas grandes, subidas e, também descidas lindas e, perigosas, com pedras soltas de grandes dimensões.Estas descidas acentuadas são extremamente técnicas, dado que, devido à velocidade rapidamente atingida a trajectória deve ser muito bem calculada, pois ao mínimo deslize é queda na certa.
A carga(+/- 5Kg) que trazemos nas bikes é outra adversidade, nestas descidas, pois para além do peso e, caso não venha muito bem acondicionada começa a deslizar lateralmente, e obriga a várias paragens.
Etapa cumprida. Almoçámos em Ponte de Lima, e pernoitámos na moderna Pousada de Juventude que possui muito boas condições. 36Km efectuados, Descanso do Guerreiro. amanhã Há +.

Ponte de Lima, 24 de Abril, 09.00H Céu nublado.
As setas levam-nos até uma vereda bastante enlameada com grandes pedras soltas (excelentes para espetar com o artista no charco), tudo isto entre muros de granito, mais parecia uma trincheira.
Mais à frente temos o encontro com a Serra da Labruja, onde o caminho passa precisamente no seu ponto mais alto, descendo a seguir para Cabanas, já em Paredes de Coura. Chegados a Valença, atravessamos o Rio Minho e, já estamos em Espanha, mais precisamente em Tuy. O albergue é fraco, só está um peregrino que não fala nem entende língua nenhuma( pareceu-nos que era essa a sua intenção), não havia nenhum responsavel da casa, esquesito. Na porta havia um letreiro com um nº de tel. e que informava que a hora de fecho era às 22.00H. Depois das dez fechavam a porta, e nós? ficávamos aqui dentro encerrados? Mal ia a volta. Lá conseguimos telefonar e, alguém nos disse que não o fechariam, boa, vamos então ao merecido banho depois de 43 Km com mais subidas do que no primeiro dia. Lindo! não há água quente! Bela entrada em Espanha. Para ajudar à festa começa a chover, algo nos diz que amanhã vai ser um dia daqueles.

Tuy, 25 de Abril, 08.30H, chove.
Dificuldades acrescidas, toca a proteger o equipamento e vestir os impermeáveis. Não apetece nada montar nas bikes, mas tem que ser. Chuva, chuva e, mais chuva.
Aqui em Espanha as setas são substituidas por azulejos com o desenho de uma vieira, que é colocada de acordo com a direcção a seguir.
O troço à saída de Tuy é muito bonito, muito verde, ladeado por enormes Castanheiros. Deu para levantar o animo.
O almoço foi em Redondela, estamos encharcados. Passamos pelo albergue onde estão encerrados no seu interior dois peregrinos, pois aqui é hora de almoço e, os hermanos fecham a porta com quem lá está dentro y ya está, te quedas encarcerado, lindo, não é?
Seguimos para Pontevedra e, aqui levamos com uma montanha enorme onde fazemos parte da ascenção entre a floresta, por um trilho em calçada romana bastante degradada, molhada e escorregadia. carregamos com as bikes à mão. Estamos estourados. Na descida para o outro lado, muita pedra e calhaus rolados, novamente redobramos a concentração no domínio das bikes. No final, as palmas das mãos doem, devido à força exercida para segurar o guiador e sempre a travar ao mesmo tempo.
Chegámos a Pontevedra com a roupa molhada devido ao suor criado pelos impermeáveis. Aqui o albergue é muito bom (já há baño caliente!). O acolhimento por parte dos responsaveis do mesmo foi excelente.
Estão 10 peregrinos. Quatro são tugas, dois espanhois e um belga, porreiros (já batidos de outras peregrinações pelo camino francês) e, um cromo, que diz ser xaman ( grande noia). Hoje foram quase 50km, só já falta o dia de amanhã para chegarmos ao destino.

Pontevedra, 26 de abril, 07.30H céu cinzento, está frio.
Atavessamos a cidade e, encontramos outro troço lindo, rodeado por frondosos castanheiros muito verdes.
esta etapa teve grandes partes efectuadas pela estrada nacional o que para além de perigoso, é feio e monótono. Por outro lado foi uma ajuda, pois o dia de hoje apresentava-se como a etapa mais longa de todas, aproximadamente 70Km e, o alcatrão sempre ajuda a rolar mais rápido. Tivemos muito vento de frente e, a ansiedade em chegar era grande.
Os últimos 15 Km pareciam não ter fim, e a entrada em Santiago foi bastante difícil, muito mal sinalizada. O caminho Português tem pouca projecção, comparado com o Francês, talvez seja por isso.
FINALMENTE ESTAMOS EM FRENTE À CATEDRAL - GRANDE EMOÇÃO!

Obtivemos neste mesmo dia a honrosa Compostela e, descansámos ao fim de quatro longos dias de viagem, guardando a manhã seguinte para a visita a esta linda e velha cidade carregada de história e carisma. No dia seguinte assitimos à missa do Peregrino ao meio-dia,(Linda e emocionante especialmente a parte do botafumeiro) beijamos o Apóstolo Santiago como manda a tradição e, regressamos a Portugal de comboio.
Esta viagem teve um average de +/- 9.5Km/h